
Exposição
Odara – Entre cores e memórias
A inauguração da Galeria de Arte Mãe Meninazinha de Oxum marca um momento histórico na confluência entre arte e espiritualidade afro-brasileira. Este espaço sagrado, fundado pela Mãe Meninazinha de Oxum em 1968, agora se revela também como território de exposição artística, onde a ancestralidade ganha forma através das cores e pinceladas.
A exposição inaugural “Odara – Entre cores e memórias” apresenta 16 obras em acrílica sobre tela, produzidas por Mãe Meninazinha de Oxum entre os anos de 2004 e 2011. Este recorte temporal da produção artística da iyalorixá representa um período de intensa maturidade espiritual e criativa, quando ela canalizou para as telas suas memórias e sua profunda conexão com o sagrado.
O título da exposição, “Odara” – palavra iorubá que significa “bom”, “belo”, “excelente” – evoca a concepção estética fundamental das culturas africanas, onde beleza e bondade são indissociáveis. Nas telas de Mãe Meninazinha de Oxum, o odara se manifesta como expressão visual da harmonia cósmica, do axé que permeia todas as coisas e das tradições transmitidas através das gerações.
O subtítulo “Entre cores e memórias” aponta para a dimensão temporal complexa que caracteriza essas obras. Não se trata apenas de memórias pessoais da artista, mas de memórias coletivas, ancestrais, que atravessam séculos e oceanos para se materializar nas telas contemporâneas.
Entre cores vibrantes e memórias, as obras dialogam com a rica iconografia do candomblé, traduzindo em linguagem artística os mistérios e ensinamentos dos orixás. Cada pincelada carrega a força espiritual de uma mulher que dedicou mais de cinco décadas à preservação e transmissão dos saberes afro-brasileiros.
Cada obra funciona como um portal temporal, conectando o observador com as origens africanas da cultura brasileira. São memórias que resistiram à travessia atlântica, à escravidão, à perseguição religiosa, ao racismo e que agora encontram novo vigor expressivo através da arte pictórica de uma das mais respeitadas Iyalorixás do Brasil.
Marco Antonio Teobaldo de Oxóssi
Curador